XIII Congresso Internacional da Sociedade Hegel Brasileira
Hegel, natureza e cultura na era do antropoceno
De acordo com a organização Global Footprint Network, a humanidade esgotou, em 1º de agosto de 2024, todos os recursos ecológicos que o planeta Terra pode regenerar durante um ano. Em 2000, o “dia da sobrecarga da Terra” [Earth Overshoot Day] era 17 de setembro; Em 1971, início da série histórica, era 25 de dezembro. O relatório das Nações Unidas de outubro de 2024 afirma que o “mundo está no rumo de um aumento ‘catastrófico’ da temperatura de 3,1°C.” Em 2024, São Paulo foi durante vários dias a cidade mais poluída do mundo. Também neste ano de 2024, 60% do território brasileiro estava coberto de fumaça. A seca na região amazônica mostra que o colapso climático não é um discurso alarmista de cientistas: estamos presenciando o colapso do funcionamento do planeta.
O XIII Congresso Internacional da Sociedade Hegel Brasileira tem como um de seus objetivos discutir quais os possíveis diagnósticos e as possíveis respostas que a filosofia hegeliana poderia oferecer a esse tempo de crise climática. Não há outro lugar melhor para discutir essa crise do que a Universidade Federal do Amazonas, em Manaus A mais extensa floresta tropical, maior biodiversidade, morada dos povos que sabem viver no planeta sem destruí-lo, a Amazônia se tornou o centro do mundo.
Em seu primeiro artigo de filosofia publicado, Hegel afirmava o projeto de redimir a natureza “dos maus tratos de que ela padeceu […]”. A filosofia hegeliana pode ser uma fonte de inspiração para pensar essa questão climática, mas ela, com certeza, não tem uma resposta única e clara sobre o tema. Em um fragmento de 1803, “A essência do espírito”, Hegel afirma que a “essência do espírito é que ele se encontra em oposição a uma natureza, combate essa oposição e vem a si mesmo como vencedor sobre a natureza.” Na versão da Enciclopédia de 1817, Hegel afirma que o “espírito tem para nós a natureza como sua pressuposição” e que, no conceito de espírito, a “natureza desapareceu”. O espírito se apresenta então como ideia, como identidade entre sujeito e objeto, mas essa identidade é “negatividade absoluta”, pois o conceito de espírito tem na natureza a sua “objetividade exterior perfeita”. Ao suspender essa “exteriorização” o espírito se torna “idêntico consigo mesmo”. A suspensão da exteriorização significa, porém, que a natureza é conservada como uma pressuposição do espírito: “Ele é, com isso, essa identidade apenas como o retornar a partir da natureza”. Na Enciclopédia de 1830, a natureza aparece como o que é exterior não apenas em relação à ideia lógica: a “exterioridade” constitui a determinação mesma da natureza enquanto ser-aí da ideia. Em suas Preleções sobre a filosofia da história de 1822/23, Hegel afirmou que o “lugar dos povos é um [lugar] espiritual, mas a determinidade do seu princípio corresponde ao lado natural do solo”, o que parece sugerir que o espírito objetivo está de maneira insuperável ligado a uma base natural: “o particular também precisa existir e tem essa existência no lado natural.” Por um lado, o espírito aparece em uma posição de “vencedor sobre a natureza”, por outro, ele está imbricado em uma estrutura relacional em que o “lado natural do solo” fornece uma base intransponível para seus princípios históricos da liberdade possam ganhar uma determinidade concreta. Se a filosofia hegeliana tiver alguma resposta à questão climática, ela, certamente, não é simples e nem indiscutível.
A Sociedade Hegel Brasileira convida a comunidade acadêmica a submeter resumos até 31/05/2025 para o XIII Congresso Internacional da Sociedade Hegel Brasileira. O congresso pretende abordar possíveis diagnósticos de tempo e respostas que a filosofia hegeliana pode oferecer à crise climática, bem como discutir o lugar da natureza e da segunda natureza dentro da filosofia hegeliana e da filosofia clássica alemã em geral. https://hegelbrasil.org/hegel-natureza-e-cultura-na-era-do-antropoceno/